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Nicole, antes do acidente. |
Sentada no batente de um dos bares da movimentada rua, a loira adianta que sua história é muito interessante e conta que começou a se prostituir aos 16 anos, porque sofria maus tratos por parte do pai e da madrasta. “Não aguentei a pressão em casa. Já trabalhava aqui, em um trailer, e via as meninas fazendo programas. Um dia eu me vesti, saí sozinha e hoje tô na vida”, explica. Rompido o contato com a família, Nicole viajou, conheceu outras travestis, se envolveu com drogas e continuou a fazer seu trabalho arriscado.
A experiência fez com que ela aprendesse a se virar melhor nas ruas: “Um dia, eu tava passando na Central e uma bicha se recalcou com a minha beleza rara e veio com um estilete me cortar. Só porque eu tava passando! Depois disso, passei a me defender”, fala, mostrando a cicatriz no braço esquerdo.
Mas a exposição chegou ao limite quando, ao fazer um programa com um tenente das forças armadas, Nick foi alvejada na perna, com um tiro de fuzil vindo dos policiais que faziam uma blitz no local. Inconformada, ela pensa que a situação poderia ter sido diferente: “Eles não precisavam ter atirado, eles deviam ter acionado uma patrulhinha lá na frente, pra perseguir e parar o carro, porque o carro em que eu tava avançou.” Seu cliente, que – de acordo com seu relato – avançou por vergonha de estar com um travesti ou por puro exibicionismo, alegou deficiência mental. “Nessa brincadeira, perdi minha perna”, queixa-se.
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Nicole hoje. |
Após um relacionamento "intenso e maravilhoso" com um nordestino, Nick hoje está solteira. Ainda apaixonada, ela dá detalhes sobre a relação, que durou quatro anos: “No início, a gente ia passear de mãos dadas no shopping, na praia, se beijava em público... Ele sabia que eu gostava disso. Ele realmente gostou de mim, porque foram quatro anos, ele já tinha se reerguido, mas continuou lá em casa, comigo. Eu gozava dentro dele e ele gozava dentro de mim!”, adicionou, enfatizando a última frase com uma voz sussurrada.
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Lembranças. |
Sem religião definida, ela revela que espera sair da Vila Mimosa um dia e tem fé em Deus de que alguém se sensibilizará com a matéria e a ajudará no caso da indenização por parte do Estado, o que ainda não ocorreu. Suas atividades religiosas incluem os programas de TV de igrejas e os grupos que frequentam a sua precária casa. Um dos sonhos de Nick é aceitar Deus em sua vida: “Deus tem que fazer eu sentir por mulher o que eu sinto por homem, mas sem ser nada forçado. É uma coisa que eu até queria, mas que fosse natural. Eu ainda não tô preparada”, pondera.
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Seu cômodo sem banheiro. |
Nicole é a travesti mais conservadora que já vi.
ResponderExcluirÓtima matéria, amigo.
Um beijo.