Uma manhã acalorada no
final do inverno combinava com a paixão de uma menina por gatinhos. “É raro
achar gato que gosta de carinho na barriga”, conclui com doçura na voz,
enquanto a gata preta e branca se mistura as suas carícias e à parede branca
desbotada.
O campus da UFRJ na Praia
Vermelha, em Botafogo, zona sul do Rio, tem construções antigas, que recebem
constantes reformas, pois estão em meio à natureza. O verde não falta. As
raízes das plantas por vezes destroem as calçadas, os pés das paredes mofam, a
lama formada pela chuva suja o lado de fora dos prédios. Aliado aos gatos e
gambás que ali vivem, um ar bucólico domina o lugar.
Em pé e mais afastada,
sua colega concorda com tudo o que diz, sem demonstrar muito ânimo em relação
ao felino. Talvez estivesse com vergonha da amiga, que sussurrava palavras de
afeto ao gato, com a voz sutilmente infantilizada, e – ao mesmo tempo, mas com
outra mão – segurava um copo de mate e um croissant
espremido no guardanapo.
-Vamo! – sugeriu a
amiga, com uma voz um pouco mais rígida.
-Tá.
A menina-do-tênis-rosa seguiu
com seu rebolado e os cabelos castanhos esvoaçantes, que não paravam de dançar
com a brisa, mesmo quando ela parou para falar com o próximo gato. O bichano,
com um ar desconfiado, veio acompanhado de mais dois amigos, surgidos do mato
alto.
-Alice, eu chamei um,
vieram um monte! – exclamou a moça, com alegria em seus olhos também castanhos.
Mais uma vez agachada,
seu celular com capa rosa queria fugir do bolso traseiro esquerdo. Mas não o
fez. A tríade de gatinhos parecia ter sido metricamente planejada, com a garota
no centro, pegando o celular e levantando com pressa. Alice, de short e com o
rosto suado, já estava mais a frente. A menina precisava acompanhá-la, porque
certamente estavam atrasadas para algum compromisso.
Andando sem a graça de
outrora, devorando seu lanche, a garota tem o azar de encontrar com o quinto
gato do dia. Desta vez, um bem manhoso. As manchas de seus pelos ficavam ainda
mais bonitas quando os raios de luz banhavam seu corpo. O cinza avermelhado de
seus pelos ficava ainda mais vivo.
Hipnotizada, a
menina-de-blusa-rosa não pôde resistir. Não era o dia de Alice. Com uma alegria
contagiante, a menina, a qual até hoje não sei o nome, apertou, alisou e
venerou o gato por alguns instantes, até que foi embora com Alice.
Neste momento, o campus parou. Olhando de
longe, quase não se via movimento, apenas folhas caindo sobre a calçada. O gato
sentou no chão e ali ficou, de um modo mecânico, como se esperasse alguém. Os
segundos de tranqüilidade se foram rapidamente, e logo chegava outra pessoa
para apreciar o jeito gato de ser do gato.
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