terça-feira, 8 de outubro de 2013

Obstáculos de um passeio

Uma manhã acalorada no final do inverno combinava com a paixão de uma menina por gatinhos. “É raro achar gato que gosta de carinho na barriga”, conclui com doçura na voz, enquanto a gata preta e branca se mistura as suas carícias e à parede branca desbotada.

O campus da UFRJ na Praia Vermelha, em Botafogo, zona sul do Rio, tem construções antigas, que recebem constantes reformas, pois estão em meio à natureza. O verde não falta. As raízes das plantas por vezes destroem as calçadas, os pés das paredes mofam, a lama formada pela chuva suja o lado de fora dos prédios. Aliado aos gatos e gambás que ali vivem, um ar bucólico domina o lugar.

Em pé e mais afastada, sua colega concorda com tudo o que diz, sem demonstrar muito ânimo em relação ao felino. Talvez estivesse com vergonha da amiga, que sussurrava palavras de afeto ao gato, com a voz sutilmente infantilizada, e – ao mesmo tempo, mas com outra mão – segurava um copo de mate e um croissant espremido no guardanapo.

-Vamo! – sugeriu a amiga, com uma voz um pouco mais rígida.

-Tá.

A menina-do-tênis-rosa seguiu com seu rebolado e os cabelos castanhos esvoaçantes, que não paravam de dançar com a brisa, mesmo quando ela parou para falar com o próximo gato. O bichano, com um ar desconfiado, veio acompanhado de mais dois amigos, surgidos do mato alto.

-Alice, eu chamei um, vieram um monte! – exclamou a moça, com alegria em seus olhos também castanhos.
Mais uma vez agachada, seu celular com capa rosa queria fugir do bolso traseiro esquerdo. Mas não o fez. A tríade de gatinhos parecia ter sido metricamente planejada, com a garota no centro, pegando o celular e levantando com pressa. Alice, de short e com o rosto suado, já estava mais a frente. A menina precisava acompanhá-la, porque certamente estavam atrasadas para algum compromisso.

Andando sem a graça de outrora, devorando seu lanche, a garota tem o azar de encontrar com o quinto gato do dia. Desta vez, um bem manhoso. As manchas de seus pelos ficavam ainda mais bonitas quando os raios de luz banhavam seu corpo. O cinza avermelhado de seus pelos ficava ainda mais vivo.

Hipnotizada, a menina-de-blusa-rosa não pôde resistir. Não era o dia de Alice. Com uma alegria contagiante, a menina, a qual até hoje não sei o nome, apertou, alisou e venerou o gato por alguns instantes, até que foi embora com Alice.


 Neste momento, o campus parou. Olhando de longe, quase não se via movimento, apenas folhas caindo sobre a calçada. O gato sentou no chão e ali ficou, de um modo mecânico, como se esperasse alguém. Os segundos de tranqüilidade se foram rapidamente, e logo chegava outra pessoa para apreciar o jeito gato de ser do gato.

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