segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Uma garota de conteúdo da VM!

Nicole, antes do acidente.
Coragem e tristeza marcam a vida da travesti Nicole Brasil, uma prostituta de 29 anos, que se aposentou após uma catástrofe – que lhe custou a perna esquerda – ocorrida durante um de seus programas. A moradora de um cômodo precário na Rua Sotero dos Reis, na Vila Mimosa, a maior região de prostituição do Rio de Janeiro, não se deixa abater pela sua deficiência e fala abertamente sobre suas experiências e aspirações.

Sentada no batente de um dos bares da movimentada rua, a loira adianta que sua história é muito interessante e conta que começou a se prostituir aos 16 anos, porque sofria maus tratos por parte do pai e da madrasta. “Não aguentei a pressão em casa. Já trabalhava aqui, em um trailer, e via as meninas fazendo programas. Um dia eu me vesti, saí sozinha e hoje tô na vida”, explica.  Rompido o contato com a família, Nicole viajou, conheceu outras travestis, se envolveu com drogas e continuou a fazer seu trabalho arriscado.

A experiência fez com que ela aprendesse a se virar melhor nas ruas: “Um dia, eu tava passando na Central e uma bicha se recalcou com a minha beleza rara e veio com um estilete me cortar. Só porque eu tava passando! Depois disso, passei a me defender”, fala, mostrando a cicatriz no braço esquerdo.

Mas a exposição chegou ao limite quando, ao fazer um programa com um tenente das forças armadas, Nick foi alvejada na perna, com um tiro de fuzil vindo dos policiais que faziam uma blitz no local. Inconformada, ela pensa que a situação poderia ter sido diferente: “Eles não precisavam ter atirado, eles deviam ter acionado uma patrulhinha lá na frente, pra perseguir e parar o carro, porque o carro em que eu tava avançou.” Seu cliente, que – de acordo com seu relato – avançou por vergonha de estar com um travesti ou por puro exibicionismo, alegou deficiência mental. “Nessa brincadeira, perdi minha perna”, queixa-se.
Nicole hoje.
Após um ano e seis meses de tratamento na Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR), incluindo fisioterapia e acompanhamento psiquiátrico, a vencedora do prêmio Supertranssex, do site de acompanhantes Chantily/Rio Relax, ainda “dá as suas pescadinhas”, mas preza pela sua segurança: “Não vou mais para lugar longe nem entro mais em carros de desconhecidos”.

Após um relacionamento "intenso e maravilhoso" com um nordestino, Nick hoje está solteira. Ainda apaixonada, ela dá detalhes sobre a relação, que durou quatro anos: “No início, a gente ia passear de mãos dadas no shopping, na praia, se beijava em público... Ele sabia que eu gostava disso. Ele realmente gostou de mim, porque foram quatro anos, ele já tinha se reerguido, mas continuou lá em casa, comigo. Eu gozava dentro dele e ele gozava dentro de mim!”, adicionou, enfatizando a última frase com uma voz sussurrada.
Lembranças.
Com uma separação conturbada, a moça resolveu deixá-lo seguir sua vida como hétero, porque não aguentava mais a situação forçada. Questionada se ela está recuperada e feliz sem ele, Nicole ressalta: “Estou conformada. Fico feliz por ele estar feliz. A minha revolta toda era porque ele falava que ia ficar comigo pro resto da vida. Eu, carente e depressiva, me entreguei de corpo e alma. Acreditei nele”, justifica.

Sem religião definida, ela revela que espera sair da Vila Mimosa um dia e tem fé em Deus de que alguém se sensibilizará com a matéria e a ajudará no caso da indenização por parte do Estado, o que ainda não ocorreu. Suas atividades religiosas incluem os programas de TV de igrejas e os grupos que frequentam a sua precária casa. Um dos sonhos de Nick é aceitar Deus em sua vida: “Deus tem que fazer eu sentir por mulher o que eu sinto por homem, mas sem ser nada forçado. É uma coisa que eu até queria, mas que fosse natural. Eu ainda não tô preparada”, pondera.
Seu cômodo sem banheiro.
Por enquanto, “voltar a ser rapaz, construir uma família, se converter, entrar pra Igreja Evangélica e salvar muitas almas pro Jesus, pra compensar os erros” ficam para o futuro. Talvez a vontade de ser “curada, salva e liberta” esteja na simples aceitação de quem é. Outro passo importante é deixar a preguiça (o que ela confessou ser um problema em sua vida) de lado, começando pelo adeus à Vila Mimosa: “Sair daqui é o que eu mais quero. Isso aqui é um tédio, só tem droga e maldade”.

Um comentário:

  1. Nicole é a travesti mais conservadora que já vi.
    Ótima matéria, amigo.

    Um beijo.

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